quarta-feira, 2 de março de 2011

Entre clarins e trombones


Enquanto dançava em uma prévia carnavalesca, ela não esperava pelo toque no ombro que uma amiga lhe deu para chamar sua atenção. Ao som da música de Tim Maia, ela mal se virou e já foi surpreendida:

- Cadê aquela tua antiga paixão? – a amiga perguntou secamente.

Como resposta continuou cantando a plenos pulmões:

- E eu gostava tanto de você
(quando era babaca)
gostava tanto de você – respondeu desconstruindo parte da música na esperança que a amiga entendesse as entrelinhas. O que foi em vão!

- Não vale chorar, heinI Não vale chorar – gritava cheia de ironia e desdém.

Naquele instante ela não soube distinguir se o que sentiu era alegria pela pergunta não mais incomodar ou por ela mesma acreditar ter superado o que precisava lembrar ter esquecido. E sem querer buscar respostas naquele contágio carnavalesco permaneceu com os braços erguidos, corpo suado, batimento descompassado causado pelo ritmo da pelada musical.

Mas, em segredo, durante o arrastão de frevo, continuou tentando enxergar através de luzes e penduricalhos qualquer coisa que indicasse ser ele. Enquanto isso na sua cabeça rolava outra canção: paixão antiga sempre mexe com a gente. É tão difícil esquecer. Basta um encontro por acaso e pronto, começa tudo outra vez. Cantava Tim Maia.

Disso ela sabia. Disso ela tinha certeza.