sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Feliz 2011


Não acredito em passagens datadas. Muito menos em mudanças de comportamento por conta do final do ano. Não acredito que os sete pulinhos nas ondas do mar, as três uvas perto da meia-noite e os caroços de romã irão me trazer boa sorte. Não acredito que pular de um degrau me fará subir na vida. Não acredito que comer carne de porco irá me ajudar a seguir em frente ou simplesmente que comer peru irá atrasar qualquer oportunidade. Não acredito em superstições!

No entanto acredito que estar perto da família na virada me fará mais feliz. Acredito que a benção da minha avó trará mais luz ao meu caminho. Acredito que conversar calmamente com as pessoas que amo enquanto janto será algo bom de ser lembrado durante o novo ano. Acredito que verdadeiros amigos são melhores que o prêmio da Mega Sena. Acredito que andar na praia ajuda a esquecer os problemas. Acredito que abraço de pai e mãe elimina dores intensas.

Acredito que e-mails, torpedos e ligações diminuem distâncias. Acredito que o silêncio também é uma forma de se declarar um grande amor. Acredito que beijos inesperados são melhores que o cumprimento de expectativas. Acredito que a companhia do meu cachorro cura alguns vazios provocados por outra espécie de animal. Acredito que crescer é doloroso, mas que amadurecer é bom.

Acredito que assistir filme é uma excelente terapia. Acredito que ficar em casa lendo um bom livro é um dos melhores programas em uma sexta à noite. Acredito que mudanças são inevitáveis, e que dar um passo a frente é a melhor opção. Acredito que chances não são ilimitadas. Acredito no trivial, na beleza dos dias comuns. E acredito principalmente que cada batida do relógio é réveillon.

Aos que amo, um feliz início. Seja no que for.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Agora, seja bem-vindo!


Entreguei uma carta de despejo para o inquilo do meu coração. Depois de alguns anos residindo confortavelmente e seguramente neste endereço fixo, decidi expulsá-lo de vez de dentro de mim. Foi um processo lento, mas consegui. No momento da despedida o cara de pau ainda teve a capacidade de perguntar-me se poderia, por um tempo, se instalar na minha mente. Isso para o caso de eu não ter tanta certeza quanto a minha decisão.

Gritei com ele por insistir.
Gritei comigo porque quase cedi.
E lembrei que o melhor nem sempre tem final feliz. Nós não tivemos.

Com o coração vazio resolvi limpar os cômodos. E não por acaso comecei pelas fibras musculares estriadas, afinal de conta são elas que se contraem sob a ação da vontade. Da vontade de voltar atrás. Depois segui para o miocárdio. No seu interior encontrei quatro coisas esquecidas pelo antigo morador. Ele havia deixado seu cheiro, seu gosto, o som do seu riso e estranhamente o que havia roubado de mim. Estava tudo lá. Esperando-me. Não foi fácil arregaçar as mangas e encaixotar tudo. Só separei o que de fato me pertencia. Por precaução lacrei as caixas e coloquei-as na calçada para não correr o risco de querer ficar com alguma quinquilharia, hoje, sem valor.

Quando voltei, já cansada, resolvi ver o estado do miocárdio. Já tinha esquecido como aquele espaço era grande, mas para minha surpresa ele estava revestido por um carpete. O que não me lembro de ter autorizado. Resolvi arrancá-lo, limpar por baixo. Acabei encontrando dores escondidas. Não resisti. Sentei e chorei. Eu já estava tão exausta, suada, desesperada. Parecia que aquilo nunca iria ter fim.

Fui até o jardim, estava pesado demais seguir naquilo tudo sozinha. Liguei para algumas amigas, e todas - como se tivessem combinado – aconselharam-me a prosseguir sozinha. Afinal, só eu mesma para colocar ordem naquele caos.

Regressei, varri, espanei, mas lá achei melhor esfregar o chão. Havia muita coisa grudada e remover algumas delas foi tarefa árdua. Lavei com água e um pouco de sabão em pó. Só então pude despejar desinfetante e esfregar para limpar o quer faltava. Ufa!!! Embora cansada já conseguia ver as coisas com outros olhos. O cheiro já estava diferente. Era bom acompanhar tudo que estava impregnado descer pelo ralo.

Segui finalmente para as quatros válvulas cardíacas. Onde inicialmente pensei que nunca chegaria. Molhei toda área e achei melhor usar detergente líquido no chão. Deixei 20 minutos de molho e em seguida joguei um pouco de alfazema. Dizem que limpa e purifica energeticamente o lugar.

Só depois de tudo limpo visitei todos os cômodos, um a um. Respirei fundo e me lembrei de como precisava daquele espaço limpo, fluindo energia, arejado para me sentir verdadeiramente bem e feliz. Quando estava na porta, pronta para sair, voltei ao miocárdio e peguei o que sempre me pertenceu: o brilho dos meus olhos. Mal cheguei a rua e ele já havia se espalhado e se reinstalado em mim. Inteira.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Educação de casa a gente leva a praça



Precisando finalizar relatório de um espetáculo e iniciar a divulgação de um longa, o tópico mais debatido na minha última reunião não tinha nada haver com nossa pauta: a falta de educação, de gentileza de alguns seres humanos.

Não é a ausência do sorriso para um estranho, a saudação para o motorista de ônibus, o pedido de licença para entrar na sala do chefe, mas a falta de tato nas coisas mais simples e corriqueiras do dia a dia. Sejam elas esperadas ou não.

O fato é que as pessoas, além de mal educadas, estão agressivas. O pedido de licença geralmente vem acompanhado de um empurrão. Se você estiver no cinema tem aqueles que espertamente furam a fila. E se você, ousar, reclamar ganhará no mínimo um olhar raivoso. Se o assunto é estacionamento, nada de respeitar as regras de trânsito. Bom senso, exemplo, que nada! Isso está em extinção na sociedade atual. E olhe que nem mencionei o lixo jogado no chão.

A mãe joga lixo na esquina de casa, o pai pela janela do carro, a filha repete o gesto por achar lindo ver os papeizinhos coloridos soltos pelo ar. Poderia até soar poético se não fosse absurdo, irritante ver esses pequenos seres sendo espelho do mau costume dos pais.

Educação, gentileza, atenção, respeito não estão fora de moda. Apenas alguns preferem ficar fora da tendência de fazer do mundo um lugar melhor. Esquecendo que o problema aqui é de todos, embora a responsabilidade seja de cada um.

Fica aqui o incentivo: vamos saudar as pessoas na rua, cumprimentar o segurança da loja ao lado, agradecer pela informação recebida, olhar nos olhos, escutar o próximo, ensinar aos pequenos sobre cordialidade, sorrir quando for solicitar algo, agradecer quando for atendido, reconhecer quando estiver bem feito, e, lógico, se nesse meio tempo resolver atravessar uma praça num dia de sol e aproveitar para tomar um sorvete, não esqueça que o lugar do guardanapo é no lixeiro ao lado.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Os primeiros laços de amizade




Outro dia uma amiga estava preocupada porque a filha não tem amigos. A criança com pouco mais de 8 anos ainda não estabeleceu laços de amizade com ninguém na turma do colégio. Estranho poderia afirmar, mas quando conheci a pequena enxerguei a criança linda que ela é.

Educada, inteligente, desenrolada. Entre uma conversa e outra ela confidência que sente frio de apreensão no estômago esperando o recreio. Então ela finge estar ocupada com alguma coisa que prefere fazer sozinha. Timidez, certamente!

O fato é que algumas crianças são maldosas. Pequenos monstros. O que pode causar insegurança em uma menina que recentemente estudava no interior. Mas não quero falar sobre violência física ou psicológica, intencionais e repetidas que diariamente várias crianças sofrem caladas por medo de serem cada vez mais perseguidas.

Quero falar da infância que deixa boas lembranças, das brincadeiras nos finais de tarde, das férias no litoral, das viagens, das descobertas, dos doces momentos que a gente vivia com certa irresponsabilidade. E no meu caso, tudo isso foi vivenciado ao lado dos meus primos.

Férias, carnaval, formatura do ABC, batizado, natal, final de ano, tudo, tudo, tudo com a família reunida. Com sete meninas e sete meninos, os anos 80 foi uma época divertida para gente compartilhar. Passamos pelo atari, a Barbie e o autorama. Brincamos de pega, sinuca e gato mia. Fizemos barracas usando lençóis. Conhecemos junto parte do litoral pernambucano e alagoano até meados dos anos 90. Não tenho lembrança que eles não estejam.

Brigas, desentendimentos, repreensões. Acordos de paz, desculpas, esquecimentos. Hoje, amizade e saudade. Alguns deles já casaram, outros tiveram filhos. Tem aquela que está esperando o primeiro rei, os que viraram empresários, a que trabalha nos três turnos e ainda é mãe e esposa, a que segura às pontas de casa, o que virou cantor, os que continuam juntos dia a dia em uma rotina deliciosa de se viver.

Não foi na escola que constitui os primeiros laços de amizade. Aos 8 anos eu já tinha os amigos de uma vida. E eles não estavam na sala de aula, no meu recreio. Eles tinham meu sangue. A procura fora era inútil. E ansiedade no estômago eu só sentia momentos antes de meus pais me levarem para casa das minhas tias. E tudo isso porque meus primos faziam da minha infância um lugar melhor.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Na reta final



Precisei assistir o último debate dos candidatos à presidência. E embora já tenha – quase - certo meu voto, vez por outra ainda fico em dúvida. Será a primeira vez que votarei por exclusão, e isso me aflige.

Desde 89, minha “primeira” eleição, eu tinha um candidato. Lula fez parte da minha infância. Lembro de ficar parada em frente à televisão e cantar junto com Gil, Chico e Djavan o jingle da campanha. Lembro de acompanhar meu pai nos comícios do PT e lembro a torcida contra de minha mãe. Isso porque lá em casa a disputa - mesmo com 22 candidatos - se restringia a Lula versus Brizola. 

No entanto, só em 98 pude, finalmente, dar meu primeiro voto a ele. E só em 2002 comemorei a vitória que demorou 13 anos para acontecer. Ele, agora presente em minha juventude, me dava à certeza que tudo daria certo.

Mas hoje, votar em sua candidata, que dúvida. E olhe que leio os jornais, pesquiso na internet, me informo, analiso propostas, vejo quem apóia, e mesmo assim, ainda assim, confesso que não sei.

Não é mistério para ninguém que o grande atributo de Dilma é ser a indicada de Lula. Com aprovação beirando os 80%, segundo última pesquisa CNI publicada, Lula funciona como um ótimo avalista. Entretanto, acho temeroso depender “apenas” de sua opinião.

Quero votar consciente de minha escolha como fiz nos últimos anos. E o receio que a criatura se volte contra o criador é enorme. Até lá fico entre duas candidatas. E, dentre as duas, só domingo decidirei. 

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Sem distância geográfica




Odeio despedidas. Não sei dizer tchau. Em alguns casos chego a sentir dor física do lado esquerdo do peito. E isso não é dramatização, é saudade antecipada da convivência, das conversas, da rotina.

Por menor que seja a distância que irá nos separar geograficamente, levo tempo para digerir o encontro que precede a partida, o último abraço, o último beijo, a última visão, o último sorriso, o último acenar.

Quando criança tudo isso era explicado pelo medo inconsciente de não haver amanhã. Hoje também. Ainda assim tento não pensar nesta possibilidade. Afasto de mim qualquer pensamento de acidente. E sem potencializar as coisas finjo que o até logo não me incomoda.

Mas como é difícil lidar com a distância, com a ausência de pessoas queridas, com as lembranças, com os momentos que você daria todas as suas economias pela presença daqueles amigos que resolveram estudar no velho mundo. Parte da família e dos amigos que moram longe. Daqueles que não houve despedida. E, principalmente, daqueles que não regressaram.

Egoísmo, medo, saudade, seja lá o que for. Para mim, também é amor.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Sedex 10

 


Nunca fui uma pessoa de me apaixonar fácil. E de esquecer muito menos. Da infância até hoje somente quatro homens fizeram meu coração bater – verdadeiramente - descompassado. Somente eles me fizeram perder o chão, a racionalidade e o que eu tinha como certo.

O primeiro deles  foi um garoto moreno, olhos e sorriso tímido. Um encanto. Por ele me apaixonei pela convivência e pela companhia nas descobertas.

Anos mais tarde me apaixonei novamente. E este foi meu amor na adolescência. O engraçado, hoje, é que nunca chegamos a ficar juntos. Quando eu quis, ele não queria. Quando ele quis, foi tarde demais.

O terceiro virou primeiro. Aquele que a gente não esquece: o primeiro namorado. Lembro de quase tudo que vivemos. Lembro da paquera, das conversas, dos risos, da nossa insegurança, dos nossos desencontros, das minhas infantilidades, do nosso amor desigual, e, conseqüentemente, do fim.

O fim deste veio com o início de outro. Um amor mais avassalador, mais perturbador, um amor que assim que eu vi, eu o quis. O mais complicado, o mais dolorido, o que durou mais do que o permitido. O que ultrapassou meus limites. O amor que machucou tanto que só anos mais tarde foi possível me refazer do estrago.

Hoje, refeita, senti vontade que alguém inventasse um amor e me enviasse pelo correio. A entrega é garantida.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A ordem, o limite, o amor


Quando nasci minha mãe era, literalmente, uma criança com pouco mais de 12 anos. Nesta fase ela havia perdido o irmão, o pai e de certa maneira a convivência com minha avó. Nesta fase a irmã virou madrinha, a sobrinha filha, e meu pai não virou apenas o marido, mas também o pai, o porto, o amigo.

Minha mãe não parecia minha mãe. Minha mãe parecia minha irmã. Mas só parecia! Isso porque mesmo com pouca idade minha mãe desempenhou todas as tarefas que qualquer mãe precisava desempenhar. Ela me amamentou (durante 1 ano e 9 meses), me ensinou a ficar de pé, segurou minhas mãos enquanto eu cobria os traços das primeiras letras, me defendeu, me falou sobre respeito, me repreendeu, me educou.

Confesso que algumas vezes ela ultrapassou limites. Os meus e os dela. Mas hoje percebo que muitos dos vacilos foram por excesso de cuidado, de proteção, de medo. E por causa disso, ela se tornou meu não diário. E só hoje percebo como é difícil dizer não para as pessoas que amamos. Mas ela soube fazer isso. Algumas vezes até demais. Mas nunca de menos. Daí o que falo do excesso.

Há uns 10 anos meus pais se separaram. E isso acabou fazendo com que trocássemos nossos papéis. Ela virou a filha procurando meu colo para uma dor que ela nunca conseguiu superar. E isso não foi algo simples de conviver. Não foi.

Nossa relação se tornou complicada demais. Cobrança, ciúme, expectativa. Eu não a entendia. Confesso que ainda hoje ela me causa confusão. Minha mãe ainda parece criança. Não por falta de maturidade, mas pela necessidade de colo, de atenção, de carência.

Acho que nunca soube corresponder as suas necessidades. As reais necessidades. Mas é que tem coisas que aqui dentro não são fáceis de ser resolvidas, superadas. Eu e ela sabemos do se trata. Mas há algum tempo me permiti deixar isso para trás. Não tinha porque prolongar os nossos desencontros. Hoje o que me permito guardar é esse amor que ela me fala e me faz sentir mesmo longe fisicamente de mim.

Hoje é meu aniversário. Daqui a 11 dias o dela. Por isso meu desejo é que ela seja sempre luz para que eu possa continuar a caminhar.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Para Você


Fiz planos, estabeleci limites, segui meu rumo.
Algumas vezes quis voltar.
Me convenci. Segui.
Inventei paixões. Meras tentativas.
Exigi lucidez.
Mas, ainda, gosto de pensar que um dia a gente vai se encontrar, e que tudo vai ser mais bonito. E se a gente se encontrar, te contarei do amor que durante tanto tempo guardei – e guardo – para você.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Palavras Roubadas

O texto a seguir não foi escrito por mim, mas para mim.

Mulher do Ninho



Ela não sabe de onde vem esse segredo, nem jamais saberá, ninguém sabe. Não nasce numa fonte límpida e cristalina, não jorra do seio da terra. Segredo sem início, sem fim e sem meio. Segredo que é, que surge a cada briga, a cada sorriso, a cada ordem – que são muitas – segredo além do tempo, parado no espaço. 

Segredo que nunca será dito, pois não se pode dizer. Segredo nos olhos, segredo nos ouvidos, segredo na pele, simplesmente segredo, imortal, pois não vive. Segredo que mata, mata de saudades, mata de ansiedade, mata de orgulho, de satisfação. Segredo assassino, impiedoso, cruel, desleal, não espera sequer a porta bater na sala e já está a atormentar os sentidos. 

Este segredo silencioso faz de você só minha sem nunca temer sua ausência, mesmo que ele me rasgue em mil pedaços, você virá me juntar, pedacinho por pedacinho e me fará inteiro novamente, e assim me sinto livre pra me despedaçar. Nós dois sabemos desse segredo, mulher do ninho, nós dois em um só, somos o segredo eterno. Segredo sem nome, sem idade, sem sexo, segredo, apenas segredo, que nos faz um só em vidas separadas e nos faz dois em vidas conjuntas. 

Amo-te porque te amo, segredo sem motivo de ser segredo e que não se faz necessário deixar de sê-lo. Grito, grito mesmo, e quem não quiser ouvir que feche os olhos: meu segredo é teu segredo, minha alma é só segredo, minha vida ao teu lado não tem segredo. Mulher, oh mulher daquele ninho, dedico a ti todos os meus segredos, peço que queime-os no fogo da tua alma e os faça ressurgir em mim como teus segredos, pois nossos são os segredos que existem em mim, em ti e entre nós, e no final não existem tais segredos.


Por Thiago França

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Imprevisibilidade previsível




Sou previsível até fora dos hábitos. Essa afirmação não é uma reflexão, mas uma constatação. Antes mesmo de falar, de esboçar qualquer reação, sou (quase) sempre surpreendida pela antecipação alheia. Não que isso me incomode, mas é que às vezes eu gostaria de não ter que escutar a danada da frase: Eu já sabia.

Eu já sabia que tu escolherias comer aqui.
Eu já sabia que tu irias pedir salada com rúcula e tomate seco.
Eu já sabia que irias pedir frango ou camarão.
Eu já sabia que tu irias querer sentar neste lugar no cinema.
Eu já sabia que tu perdes o amigo, mas não a piada.
Eu já sabia, eu já sabia, eu já sabia.

O que talvez ninguém saiba é que minha previsibilidade não são apenas práticas freqüentes, mas minhas preferências. Para mim não tem coisa pior do que cardápio. Fico confusa com tantas opções, então, raras exceções, sou levada inconscientemente para as opções que contenham rúcula e tomate seco, e frango ou camarão.

No cinema não consigo, quer dizer, não gosto das primeiras fileiras. Prefiro as últimas. Isso porque, além do filme, vejo a sala, presto atenção à reação das pessoas e ainda, vez por outra, vejo a luz saindo da cabine de projeção.

Já no caso piada versus amigo faço parte do time dos engraçadinhos. Não consigo me conter. Quando vi já soltei uma piadinha, fiz uma paródia, inventei nomes e refiz histórias. Nada que ultrapasse a linha tênue da ironia para maldade, falta de respeito ou gentileza.

Mas ontem, em uma ida ao shopping, a Thaís perguntou se eu estava com fome. Isso porque eu já estava há tempos calada e cada vez mais impaciente com tudo. Sim, eu estava com fome. Depois da minha confissão ela responde sem hesitar: queria não te conhecer tanto, ninha. Acho que foi o jeito particular e delicado de dizer: Eu já sabia!

Quando escutei nem respondi. Resolvi dentro da minha cabeça que na hora do almoço iria surpreender. E assim o fiz. O restaurante ela escolheu. No meu pedido quase sigiloso a garçonete arroz com brócolis, salada (sem rúcula), frango grelhado ao molho de mostarda e purê de tomate seco.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A Arte de Cozinhar



Cozinhar para mim sempre foi um grande desafio. Primeiro, porque não gosto, e segundo, porque não gosto. Admiro quem sabe, elogio e até incentivo. Mas sempre fui adepta ao lema: tu cozinhas e eu lavo. Só não fazia isso de bom agrado quando minhas unhas haviam sido recentemente feitas.

No entanto, faz alguns dias que tenho pensando e até me esforçado para sair da minha especialidade: água quente. Resolvi que vou cozinhar, ou melhor, aprender. Não todo dia, porque afinal nem todo dia é santo. Mas hoje foi um dia de luz, de inspiração, de descobrir meus dotes e reunir meus sentidos. 

Acordei cedo, separei os ingredientes e rezei para o padroeiro dos cozinheiros. Sim, ele existe. E atende pelo nome de São Lourenço. A receita escolhida foi um creme de galinha sugerida pela minha prima Virgínia. Que embora distante me indicou, pacientemente, todos os passos que deveria seguir.

Vamos aos ingredientes:

1 Peito de Frango
1 Tomate
½ Cebola
¼ Pimentão
E todos aqueles temperos que irão dar gosto e sabor ao frango (cuminho, coloral, alho e um tablete de caldo de galinha)
1 lata de ervilha e milho verde
500 ml de leite
3 Colheres de Amido de Milho (Aprendi recentemente que amido de milho é Maizena)

Modo de Preparo:

Tempere e refogue o frango com tomate, pimentão, cebola, alho e caldo de galinha.
Depois desfie o frango e reserve o caldo.
Bata no liquidificador uma xícara do caldo do frango.
Em outra panela refogue ½ cebola (cortada bem fininha) junto com duas colheres de manteiga.
Adicione 500 ml de leite e as 3 colheres de Maizena. Misture bem (até virar uma papa), e em seguida adicione o caldo batido no liquidificador, o milho verde e a ervilha.
Por fim despeje o frango desfiado ao molho em uma travessa e polvilhe-o com queijo ralado.

E Bon Appéti!

Servi o creme junto com arroz branco refogado (também feito por mim) e batata palha. E quando achei que tudo tinha dado super certo, afinal de contas não me cortei, não me queimei e muito menos incendiei a casa, escutei comentários que a cebola do molho branco não estava refogada. Paciência né? Para uma iniciante na arte culinária, modéstia à parte, até que fui bem.

domingo, 22 de agosto de 2010

Pequenos Prazeres


Conversa fiada. Brigadeiro morno na panela. Chuva fina. Beijo de mãe. Benção de avó. Natal em família. Viagem pelo sertão. Abraço de pai. Gargalhada de irmã. Encontro. Reencontro. Cinema. Cheiro de livro. Domingo de sol. Página em branco. Escrever. Riso. Trocar confidências. Chegar em Arcoverde. Céu azul. Amigos. Ganhar no ludo. Matar saudade. Olhos nos olhos. Receber carta. Dia feliz. Dançar ao som da Academia da Berlinda. Trabalho concluído. Primeiro dia de férias. Sushi. Vatapá de tia Vera. Rúcula e tomate seco. Revelar foto. CQC. Beijo na boca. Sonho realizado. Felicidade alheia. Ler antes de dormir. Andar descalça. Xérem com galinha. Cheiro de Calú. Xuxa no sábado de manhã. Caldeirão no sábado à tarde. Cachorro quente de Dyne. Torpedo. Boas notícias. Ser surpreendida. Fazer surpresas. Falar besteira. Lambida de Pretinho. Algodão doce. Carnaval em Olinda. Vitória do Santa. Passeio em final de tarde. Banho de mar. Toque suave. Chocolate branco. Cafuné sem pressa. Dançar com rosto colado. Sentar na grama. Banho morno e demorado. Planejar viagens. Olhar as pessoas amadas quando estão dormindo e fazer declarações de amor sem dizer uma palavra.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Por mim, por vocês.


Conversando com uma amiga essa semana, ela me perguntou se eu não sentia saudade dela. Lógico que sinto! E sinto de verdade. Sinto falta da presença, das confidências, da energia, dos risos. Mas nada disso são argumentos válidos quando simplesmente não retorno as ligações, não respondo recados, torpedos e muito menos e-mails. E isso não é um caso particular. Sou assim com todos.


Não é falta de interesse. É descuido mesmo. Eu penso, escrevo, apago, salvo nos rascunhos e depois esqueço. Prometo ligar. Pego o telefone, vou até o nome na agenda e me perco no que estava fazendo. Marco de encontrar. Esqueço o dia. Prometo, juro, faço promessa de me redimir, mas não adianta.


Justifico. Sou desculpada. Mas tem hora que a corda arrebenta. Sou ameaçada. Eles prometem não mais me procurar, riem na minha cara quando digo que dessa vez será diferente, mas não adianta. Ninguém mais me leva a sério.


Pensando nisso senti medo que eles não mais me liguem, não insistam pela minha companhia, não me procurem pra dividir, compartilhar, somar. Cheguei a uma conclusão: quero mudar. Quero de verdade. Por isso hoje fiz uma listinha das pessoas que estou em falta.


Renatinha, Cris, Claudinha, Nunu, Mariana, Davi, Bella, Vida, Naná, Priscila, Mirthis, Flavinha, KFernando, Alan, Olga, Flavinha (Chucrute) e minha amiga Morgana, que virou mãe e sumiu da minha vida.

sábado, 7 de agosto de 2010

Meu Norte


Meu pai sempre foi um homem de poucas palavras e de raras demonstrações públicas de carinho. É raro vê-lo sorrir até perder o fôlego, é raro o beijo sem falar nada e mais raro ainda é o abraço sem motivo. Confesso que em alguns momentos senti falta, mas aprendi a respeitá-lo exatamente assim. Afinal nunca o vi diferente disso.

Cresci escutando a história que no momento do meu nascimento meu pai estava jogando bola. Ele não estava no corredor do hospital pulando de alegria, nem muito menos acendendo charutos com os amigos na Praça da Bandeira. Não houve risos em excesso, não houve lágrimas. Mas não o culpo, porque nem no sexo fui novidade, ele já tinha três filhos (Dois meninos e uma menina). Não o surpreendi. Cheguei ao seu mundo sem nada muito novo.

Vendo por esses pontos alguém pode achar que tudo isso resultou numa relação fria e distante, mas não é. Hoje, além de sermos pai e filha, somo amigos. Alimentamos nossa relação desde sempre. Desde o tempo que ele chegava do trabalho e buzinava para que eu sentasse em seu colo pra dirigir o carro até a garagem; desde o momento de lhe tirar as meias depois de um dia de trabalho; desde a mão estendida quando eu sentia medo; desde o sapinho e a cobrinha zigue zagueando as ruas durante passeios em finais de tarde; as canções durante as viagens; as ligações triviais de todos os dias.

Na companhia do meu pai passei a amar a sétima arte, o futebol e tempos mais tarde o Santa Cruz. Sim, sim, virei a casaca por vê-lo pular de alegria em pleno estádio do Arruda. O motivo do espanto é que nunca vi meu pai pular nem na festa de Momo.

Para passar mais tempo ao seu lado, inconscientemente, passei a gostar do seu gosto. Adquiri alguns de seus hábitos. Minha mãe costuma dizer que me vendo parece que está vendo a ele. Mas não sou toda ele, nem fisicamente devo admitir. Meu irmão Dido sim, é sua cópia! (Embora só através destas palavras escritas consiga admitir isto.), meu irmão Juliano carrega seus gestos e modo de falar, minha irmã Luciana carrega o que não pode ser visto, minha irmã Martina sua boca e já Carol o que só o tempo poderá me mostrar.

Do meu pai não sei o que de fato carrego, porque às vezes sou apenas uma extensão dele. O que fortalece ainda mais a certeza que meu amor por ele transcende a própria vida.

p.s: Todo lindo, feliz aniversário!

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Pedacinho de chão


Quem me conhece sabe da minha paixão por cinema e da preferência por filme alternativo.

Adoro a sensibilidade e o humor do cinema francês. Do japonês a fotografia contemplativa. Do argentino a maneira como ele se aproxima da vida cotidiana. E do nacional gosto de quase tudo que fuja do contexto social, ou melhor, da favela. Com algumas exceções, claro! Até porque minha monografia foi um estudo sobre a obra de Fernando Meirelles, Cidade de Deus.

Mas esta semana foi uma produção australiana que me tocou, Mary and Max. Quem ainda não assistiu, deve assistir correndo ao trabalho de Adam Elliot. O longa é uma animação em stop motion que se revelou uma dessas agradáveis surpresas que o cinema nos reserva.

A história é baseada em fatos reais, sobre a amizade entre um novaiorquino de 44 anos e uma menina australiana de oito. Ele é um senhor que sofre da Síndrome de Asperger, tracado em sua casa, seus pensamentos lógicos e seu vício em cachorro quente de chocolate; Ela é gordinha, desajeitada e muito curiosa. Ambos são cheios de pensamentos filosóficos sobre a vida, que só diferenciam-se pela diferença de idade.

Apesar de triste, o filme encanta do começo ao fim. E nos faz lembrar como é importante ter alguém para dividir, compartilhar, se perder, se achar, mas principalmente se reencontrar. Hoje, por exemplo, foi um dia cansativo, mas recebi uma mensagem que dizia assim: saudade de todo dia! E das tuas gargalhadas.

Uma coisa simples, mas que pra mim valeu como um abraço. E abraço de amigo é como um ramo de felicidade. Aos meus, dedico meu amor!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Lar doce lar


Quando decidi dividir apartamento com um amigo não pensei muito no que isso implicaria. Pensei apenas nas intermináveis conversas que iríamos ter, na cumplicidade, nos risos e na companhia que faríamos um ao outro quando estivéssemos perdidos dentro de nós mesmos.

Não levei em consideração que a mudança não era só de casa, mas também de bairro. O que para mim foi o mais complicado. Troquei Candeias por Boa Viagem. Troquei de padaria. Troquei o lugar de sempre da praia. Troquei a locadora. Troquei os vizinhos. Troquei os caminhos que percorri diariamente durante 15 anos.

Pode parecer besteira, mas para mim inicialmente foi complicado. Era como se tivesse deixado mais uma vez os meus. E de certa maneira deixei. Isso porque antes desta mudança morei na casa da minha amiga-irmã. O que foi bom. Lá continuava dentro da estrutura familiar. Tinha um pai e uma mãe. Tinha uma irmã. E tinha até um cachorro pra chamar de meu. Tudo emprestado, mas tudo cedido com amor. Hoje passei a ser filha, irmã, neta, sobrinha, prima de verdade destes. E não tinha como ser diferente. Não no meu coração.

Mas com a necessidade de seguir, de tentar, de aprender aceitei o convite inesperado de Thiago. Ele o fez entre uma conversa e outra. E embora em dúvida, disse sim. Hoje percebo que foi a decisão mais acertada que poderia ter tomado naquele instante. Dividir meus dias, minhas mudanças de humor, medos, inseguranças, minha vida com ele e Thaís foi a melhor coisa que poderia ter escolhido naquele momento.

Candeias continua nos meus planos futuros. Um dia volto, mas hoje me sinto feliz onde estou.

domingo, 25 de julho de 2010

Toca Raul!


Adoro trabalhar, estudar, ler, escrever escutando música. Mas sempre que tenho que montar meu playlist é uma dúvida cruel. Meu gosto musical é de fases. Hoje, por exemplo, estou apaixonadíssima por Otto. Mas dias atrás amava perdidamente o samba de Paulinho da Viola e o pop inteligente de Vanessa da Mata. Isso não significa que deixei de gostar. Mas meu gosto musical vai se moldando, embora minha raiz pernambucana não me abandone.

Adoro em qualquer situação a Academia da Berlinda, o som dançante da Orquestra Contemporânea de Olinda, a irreverência da Tanga de Sereia, a batida da Nação Zumbi, Los sebosos postiços, Eddie, Coco raízes de Arcoverde, o para sempre Cordel do fogo encantado e em qualquer fase Lenine.

Mas tem um cantor baiano que me enche o peito: Raul Seixas. Na minha infância ele embalava as viagens de férias. Lógico que naquela época também gostava de Xuxa, Trem da alegria e Balão Mágico como toda criança dos anos 80, mas Raulzito com suas críticas ao sistema, o esoterismo e seu olhar sobre os sentimentos humanos era bom demais para mim.

Confesso que não era só o rock e sua poesia, mas tudo que vinha com ele. Eram minhas viagens pelo litoral nordestino, a companhia dos meus pais e principalmente o colo da minha mãe que me fazia amar Raul.

Em agosto fará 21 anos que ele nos deixou, mas por aqui e nas minhas mais doces lembranças ele nunca deixará de tocar.

P.S: Texto escrito ao som de Mônica Salmaso.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Gravada no corpo


Os bebês começam a falar entre 7 e 8 meses. Eu comecei aos 9. Minha mãe conta que eu estava brincando e de repente falei. Não foi nada sem sentido. Nada atropelado. Falei com tranqüilidade. Com segurança. Inconsciente, talvez.

Minha primeira palavra não foi baba, mama, papa. Minha primeira palavra surpreendeu. Mas o momento foi para poucos. Minha platéia se resumia aos meus pais. Eles estavam juntos. Hoje penso que realmente não precisava de mais ninguém. Estava tudo ali. Naquele quarto.

Deitados na cama eles escutaram o som da minha primeira palavra. Chegaram a duvidar. Questionaram-se. Saltaram em minha frente na tentativa que repetisse. Não repeti.

O fato é que nunca soube o que aconteceu em seguida. Não sei qual foi a segunda, terceira. Não sei quem estava presente. A importância da primeira tornou insignificantes as que vieram depois. 

Minha primeira palavra foi o nome do meu pai.


sexta-feira, 16 de julho de 2010

O sorriso que tantas vezes me recebe


Tenho lembrado muito do último encontro com minha avó. Uma visita como tantas outras, uma recepção como tantas outras. Tento abrir o portão da casa, está trancado como de costume. Chamo. Grito. Ela não levanta. Está com a TV no último volume assistindo um jogo da Copa do Mundo.

Depois de certo tempo, eu e tia bibi descobrimos o portão aberto. Entramos, encontramos Dóia sentada. Ao tentar se levantar ela segura meu braço, embora diga que se sente mais segura quando apóia no sofá. E é dessa maneira buscando seu equilíbrio que ela sorri e me abraça.

Um abraço tão forte!

Por alguns instantes ela me solta, mas ainda assim me mantêm junto do seu corpo, olha nos meus olhos e lembra que já faz muito tempo que não nos vemos. Não sei se é o fato da sua idade, 90 anos, mas a algum tempo tenho medo de viver meu último encontro.

Com um aperto no coração conto as novidades, escuto suas histórias, revejo fotos, sinto seu cheiro. Tudo como de costume. Ao nos contar alguns casos ela troca nomes e esquece outros tantos. Mas a verdade é que ela ainda não esqueceu o meu.

Ela ainda guarda o meu rosto, o meu nome e recorda o tempo que fico sem a ver. Na despedida me abençoa e diz que espera que eu seja muito feliz. Tudo como de costume.

No portão me abraça, pede para não demorar, porque meu pai precisa de mim. E com um nó na garganta me despeço. Vou embora prometendo voltar em breve. E como de costume saio de sua casa sentindo que estou mais perto de Deus.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Brincando de amigas super poderosas


Na última semana eu e mais três amigas nos encontramos para curtir o que chamamos de Dia Feliz. O dia que poderia ser chamado tranquilamente de encontro das luluzinhas, porque a entrada de menino é proibida. Mas não, seria óbvio demais.

Neste dia a gente não segue um script. Nunca tem nada muito programado. Só queremos ficar juntas, conversar, sorrir e...SER FELIZ. E é o que temos sido nestes quatro anos que nos reunimos esporadicamente. Lógico que já existiu desentendimento. Isso é fato. Mas nunca ficamos de birra durante muito tempo. Afinal não temos tempo pra isso.

Precisamos de tempo de sobra para rir até dar dor na barriga. Para comer sorvete, com biscoito, neston e goiabada. Para cantar More Than Words entre suspiros. Para ver Simone dançando ao som de Michael Jackson e Madonna. Para rir com os clipes dos anos 80. Para assistir O Fabuloso Destino de Amelie Poulain e P.S: Eu te Amo e descobrir no final do filme que uma de nós está com o rosto inchado de tanto chorar. Enfim, precisamos de mais do que já nos é disponível.

Neste último encontro rimos tanto que ficamos sem ar. Confidenciamos segredos e desejos. Aconselhamos. Repreendemos. Nos Incentivamos. Na despedida o namorado de uma delas perguntou se tínhamos brincado de amigas super poderosas. Brincamos sim!

Durante toda tarde usamos nossos super poderes. Simone sua loucura contagiante.
Regina sua visão raio laser. Kelly sua força sobre-humana. E eu minha alegria natural. O único inimigo enfrentado foi um cachorro labrador de pouco mais de cinco meses que resolveu não nos deixar em paz.

sábado, 10 de julho de 2010

Aprendizado de hoje

Durante o almoço Thiago diz sem me olhar nos olhos que todos nós sempre temos escolhas. Concordo com ele.
Mas às vezes é tão difícil. É tão complicado saber que alguns caminhos que procuramos não estão nos mapas.
Tarefa árdua esta de escolher. E renunciar.
Mas vamos em frente.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

A felicidade tem nome e sobrenome


Minha irmã sempre teve um sorriso estampado no rosto. Lembro que desde novinha as pessoas olhavam para ela e ela desatava a sorrir. Ganhou seu primeiro poema ainda com poucos meses. Um amigo de trabalho do meu pai expressou através de rima a alegria que sentia quando a via sorrir.

Não sei porque recordei isto. O fato é que dia desses, ela entrou correndo no quarto e me surpreendeu entre risos dizendo que a felicidade tinha nome, sobrenome, pernas e que andava.

Mesmo com o entusiasmo do momento, retribui sua euforia com um sorriso. Acho que sem graça. Minha irmã, seis anos mais nova que eu, definiu a felicidade para mim. Fiquei assustada com seu atropelo, sua precipitação, seu engano talvez. O fato é que fiquei pensando na minha felicidade, no que me proporcionava essa alegria desenfreada. E com sua ajuda descobri que minha felicidade tem várias identidades. Descobri através dela que estar em casa, como naquele momento, me deixava feliz.

Ver minha avó me deixa feliz. Abraçar meu pai me deixa feliz. Conversar com minhas primas na cozinha de tia Vera me deixa feliz. Reencontrar os amigos me deixa feliz. Vê-la sorrir me deixa feliz. Estar em paz com minha mãe me deixa feliz. Dançar ouvindo meu primo tocar me deixa feliz. Passear com pretinho me deixa feliz. O sertão me deixa feliz. Ser uma mistura dos meus avós, pais, irmãos, tios, primos e amigos me deixa feliz.

Através dela tive a certeza que minha felicidade não era uma pessoa, mas um lugar. Arcoverde me deixa feliz. Estar em casa, na minha cidade, com minhas origens é a minha felicidade.

De Recife para Arcoverde são 252 km. O caminho da minha felicidade percorro pela BR 232. E sempre foi assim, através da minha irmã descobri.