sábado, 7 de agosto de 2010

Meu Norte


Meu pai sempre foi um homem de poucas palavras e de raras demonstrações públicas de carinho. É raro vê-lo sorrir até perder o fôlego, é raro o beijo sem falar nada e mais raro ainda é o abraço sem motivo. Confesso que em alguns momentos senti falta, mas aprendi a respeitá-lo exatamente assim. Afinal nunca o vi diferente disso.

Cresci escutando a história que no momento do meu nascimento meu pai estava jogando bola. Ele não estava no corredor do hospital pulando de alegria, nem muito menos acendendo charutos com os amigos na Praça da Bandeira. Não houve risos em excesso, não houve lágrimas. Mas não o culpo, porque nem no sexo fui novidade, ele já tinha três filhos (Dois meninos e uma menina). Não o surpreendi. Cheguei ao seu mundo sem nada muito novo.

Vendo por esses pontos alguém pode achar que tudo isso resultou numa relação fria e distante, mas não é. Hoje, além de sermos pai e filha, somo amigos. Alimentamos nossa relação desde sempre. Desde o tempo que ele chegava do trabalho e buzinava para que eu sentasse em seu colo pra dirigir o carro até a garagem; desde o momento de lhe tirar as meias depois de um dia de trabalho; desde a mão estendida quando eu sentia medo; desde o sapinho e a cobrinha zigue zagueando as ruas durante passeios em finais de tarde; as canções durante as viagens; as ligações triviais de todos os dias.

Na companhia do meu pai passei a amar a sétima arte, o futebol e tempos mais tarde o Santa Cruz. Sim, sim, virei a casaca por vê-lo pular de alegria em pleno estádio do Arruda. O motivo do espanto é que nunca vi meu pai pular nem na festa de Momo.

Para passar mais tempo ao seu lado, inconscientemente, passei a gostar do seu gosto. Adquiri alguns de seus hábitos. Minha mãe costuma dizer que me vendo parece que está vendo a ele. Mas não sou toda ele, nem fisicamente devo admitir. Meu irmão Dido sim, é sua cópia! (Embora só através destas palavras escritas consiga admitir isto.), meu irmão Juliano carrega seus gestos e modo de falar, minha irmã Luciana carrega o que não pode ser visto, minha irmã Martina sua boca e já Carol o que só o tempo poderá me mostrar.

Do meu pai não sei o que de fato carrego, porque às vezes sou apenas uma extensão dele. O que fortalece ainda mais a certeza que meu amor por ele transcende a própria vida.

p.s: Todo lindo, feliz aniversário!

2 comentários:

  1. Daninha, tenho certeza que vc conseguiu tirar umas lágrimas emocionadas do seu pai com esse texto lindo!!!!

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