sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Sem distância geográfica




Odeio despedidas. Não sei dizer tchau. Em alguns casos chego a sentir dor física do lado esquerdo do peito. E isso não é dramatização, é saudade antecipada da convivência, das conversas, da rotina.

Por menor que seja a distância que irá nos separar geograficamente, levo tempo para digerir o encontro que precede a partida, o último abraço, o último beijo, a última visão, o último sorriso, o último acenar.

Quando criança tudo isso era explicado pelo medo inconsciente de não haver amanhã. Hoje também. Ainda assim tento não pensar nesta possibilidade. Afasto de mim qualquer pensamento de acidente. E sem potencializar as coisas finjo que o até logo não me incomoda.

Mas como é difícil lidar com a distância, com a ausência de pessoas queridas, com as lembranças, com os momentos que você daria todas as suas economias pela presença daqueles amigos que resolveram estudar no velho mundo. Parte da família e dos amigos que moram longe. Daqueles que não houve despedida. E, principalmente, daqueles que não regressaram.

Egoísmo, medo, saudade, seja lá o que for. Para mim, também é amor.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Sedex 10

 


Nunca fui uma pessoa de me apaixonar fácil. E de esquecer muito menos. Da infância até hoje somente quatro homens fizeram meu coração bater – verdadeiramente - descompassado. Somente eles me fizeram perder o chão, a racionalidade e o que eu tinha como certo.

O primeiro deles  foi um garoto moreno, olhos e sorriso tímido. Um encanto. Por ele me apaixonei pela convivência e pela companhia nas descobertas.

Anos mais tarde me apaixonei novamente. E este foi meu amor na adolescência. O engraçado, hoje, é que nunca chegamos a ficar juntos. Quando eu quis, ele não queria. Quando ele quis, foi tarde demais.

O terceiro virou primeiro. Aquele que a gente não esquece: o primeiro namorado. Lembro de quase tudo que vivemos. Lembro da paquera, das conversas, dos risos, da nossa insegurança, dos nossos desencontros, das minhas infantilidades, do nosso amor desigual, e, conseqüentemente, do fim.

O fim deste veio com o início de outro. Um amor mais avassalador, mais perturbador, um amor que assim que eu vi, eu o quis. O mais complicado, o mais dolorido, o que durou mais do que o permitido. O que ultrapassou meus limites. O amor que machucou tanto que só anos mais tarde foi possível me refazer do estrago.

Hoje, refeita, senti vontade que alguém inventasse um amor e me enviasse pelo correio. A entrega é garantida.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A ordem, o limite, o amor


Quando nasci minha mãe era, literalmente, uma criança com pouco mais de 12 anos. Nesta fase ela havia perdido o irmão, o pai e de certa maneira a convivência com minha avó. Nesta fase a irmã virou madrinha, a sobrinha filha, e meu pai não virou apenas o marido, mas também o pai, o porto, o amigo.

Minha mãe não parecia minha mãe. Minha mãe parecia minha irmã. Mas só parecia! Isso porque mesmo com pouca idade minha mãe desempenhou todas as tarefas que qualquer mãe precisava desempenhar. Ela me amamentou (durante 1 ano e 9 meses), me ensinou a ficar de pé, segurou minhas mãos enquanto eu cobria os traços das primeiras letras, me defendeu, me falou sobre respeito, me repreendeu, me educou.

Confesso que algumas vezes ela ultrapassou limites. Os meus e os dela. Mas hoje percebo que muitos dos vacilos foram por excesso de cuidado, de proteção, de medo. E por causa disso, ela se tornou meu não diário. E só hoje percebo como é difícil dizer não para as pessoas que amamos. Mas ela soube fazer isso. Algumas vezes até demais. Mas nunca de menos. Daí o que falo do excesso.

Há uns 10 anos meus pais se separaram. E isso acabou fazendo com que trocássemos nossos papéis. Ela virou a filha procurando meu colo para uma dor que ela nunca conseguiu superar. E isso não foi algo simples de conviver. Não foi.

Nossa relação se tornou complicada demais. Cobrança, ciúme, expectativa. Eu não a entendia. Confesso que ainda hoje ela me causa confusão. Minha mãe ainda parece criança. Não por falta de maturidade, mas pela necessidade de colo, de atenção, de carência.

Acho que nunca soube corresponder as suas necessidades. As reais necessidades. Mas é que tem coisas que aqui dentro não são fáceis de ser resolvidas, superadas. Eu e ela sabemos do se trata. Mas há algum tempo me permiti deixar isso para trás. Não tinha porque prolongar os nossos desencontros. Hoje o que me permito guardar é esse amor que ela me fala e me faz sentir mesmo longe fisicamente de mim.

Hoje é meu aniversário. Daqui a 11 dias o dela. Por isso meu desejo é que ela seja sempre luz para que eu possa continuar a caminhar.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Para Você


Fiz planos, estabeleci limites, segui meu rumo.
Algumas vezes quis voltar.
Me convenci. Segui.
Inventei paixões. Meras tentativas.
Exigi lucidez.
Mas, ainda, gosto de pensar que um dia a gente vai se encontrar, e que tudo vai ser mais bonito. E se a gente se encontrar, te contarei do amor que durante tanto tempo guardei – e guardo – para você.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Palavras Roubadas

O texto a seguir não foi escrito por mim, mas para mim.

Mulher do Ninho



Ela não sabe de onde vem esse segredo, nem jamais saberá, ninguém sabe. Não nasce numa fonte límpida e cristalina, não jorra do seio da terra. Segredo sem início, sem fim e sem meio. Segredo que é, que surge a cada briga, a cada sorriso, a cada ordem – que são muitas – segredo além do tempo, parado no espaço. 

Segredo que nunca será dito, pois não se pode dizer. Segredo nos olhos, segredo nos ouvidos, segredo na pele, simplesmente segredo, imortal, pois não vive. Segredo que mata, mata de saudades, mata de ansiedade, mata de orgulho, de satisfação. Segredo assassino, impiedoso, cruel, desleal, não espera sequer a porta bater na sala e já está a atormentar os sentidos. 

Este segredo silencioso faz de você só minha sem nunca temer sua ausência, mesmo que ele me rasgue em mil pedaços, você virá me juntar, pedacinho por pedacinho e me fará inteiro novamente, e assim me sinto livre pra me despedaçar. Nós dois sabemos desse segredo, mulher do ninho, nós dois em um só, somos o segredo eterno. Segredo sem nome, sem idade, sem sexo, segredo, apenas segredo, que nos faz um só em vidas separadas e nos faz dois em vidas conjuntas. 

Amo-te porque te amo, segredo sem motivo de ser segredo e que não se faz necessário deixar de sê-lo. Grito, grito mesmo, e quem não quiser ouvir que feche os olhos: meu segredo é teu segredo, minha alma é só segredo, minha vida ao teu lado não tem segredo. Mulher, oh mulher daquele ninho, dedico a ti todos os meus segredos, peço que queime-os no fogo da tua alma e os faça ressurgir em mim como teus segredos, pois nossos são os segredos que existem em mim, em ti e entre nós, e no final não existem tais segredos.


Por Thiago França

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Imprevisibilidade previsível




Sou previsível até fora dos hábitos. Essa afirmação não é uma reflexão, mas uma constatação. Antes mesmo de falar, de esboçar qualquer reação, sou (quase) sempre surpreendida pela antecipação alheia. Não que isso me incomode, mas é que às vezes eu gostaria de não ter que escutar a danada da frase: Eu já sabia.

Eu já sabia que tu escolherias comer aqui.
Eu já sabia que tu irias pedir salada com rúcula e tomate seco.
Eu já sabia que irias pedir frango ou camarão.
Eu já sabia que tu irias querer sentar neste lugar no cinema.
Eu já sabia que tu perdes o amigo, mas não a piada.
Eu já sabia, eu já sabia, eu já sabia.

O que talvez ninguém saiba é que minha previsibilidade não são apenas práticas freqüentes, mas minhas preferências. Para mim não tem coisa pior do que cardápio. Fico confusa com tantas opções, então, raras exceções, sou levada inconscientemente para as opções que contenham rúcula e tomate seco, e frango ou camarão.

No cinema não consigo, quer dizer, não gosto das primeiras fileiras. Prefiro as últimas. Isso porque, além do filme, vejo a sala, presto atenção à reação das pessoas e ainda, vez por outra, vejo a luz saindo da cabine de projeção.

Já no caso piada versus amigo faço parte do time dos engraçadinhos. Não consigo me conter. Quando vi já soltei uma piadinha, fiz uma paródia, inventei nomes e refiz histórias. Nada que ultrapasse a linha tênue da ironia para maldade, falta de respeito ou gentileza.

Mas ontem, em uma ida ao shopping, a Thaís perguntou se eu estava com fome. Isso porque eu já estava há tempos calada e cada vez mais impaciente com tudo. Sim, eu estava com fome. Depois da minha confissão ela responde sem hesitar: queria não te conhecer tanto, ninha. Acho que foi o jeito particular e delicado de dizer: Eu já sabia!

Quando escutei nem respondi. Resolvi dentro da minha cabeça que na hora do almoço iria surpreender. E assim o fiz. O restaurante ela escolheu. No meu pedido quase sigiloso a garçonete arroz com brócolis, salada (sem rúcula), frango grelhado ao molho de mostarda e purê de tomate seco.