quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A ordem, o limite, o amor


Quando nasci minha mãe era, literalmente, uma criança com pouco mais de 12 anos. Nesta fase ela havia perdido o irmão, o pai e de certa maneira a convivência com minha avó. Nesta fase a irmã virou madrinha, a sobrinha filha, e meu pai não virou apenas o marido, mas também o pai, o porto, o amigo.

Minha mãe não parecia minha mãe. Minha mãe parecia minha irmã. Mas só parecia! Isso porque mesmo com pouca idade minha mãe desempenhou todas as tarefas que qualquer mãe precisava desempenhar. Ela me amamentou (durante 1 ano e 9 meses), me ensinou a ficar de pé, segurou minhas mãos enquanto eu cobria os traços das primeiras letras, me defendeu, me falou sobre respeito, me repreendeu, me educou.

Confesso que algumas vezes ela ultrapassou limites. Os meus e os dela. Mas hoje percebo que muitos dos vacilos foram por excesso de cuidado, de proteção, de medo. E por causa disso, ela se tornou meu não diário. E só hoje percebo como é difícil dizer não para as pessoas que amamos. Mas ela soube fazer isso. Algumas vezes até demais. Mas nunca de menos. Daí o que falo do excesso.

Há uns 10 anos meus pais se separaram. E isso acabou fazendo com que trocássemos nossos papéis. Ela virou a filha procurando meu colo para uma dor que ela nunca conseguiu superar. E isso não foi algo simples de conviver. Não foi.

Nossa relação se tornou complicada demais. Cobrança, ciúme, expectativa. Eu não a entendia. Confesso que ainda hoje ela me causa confusão. Minha mãe ainda parece criança. Não por falta de maturidade, mas pela necessidade de colo, de atenção, de carência.

Acho que nunca soube corresponder as suas necessidades. As reais necessidades. Mas é que tem coisas que aqui dentro não são fáceis de ser resolvidas, superadas. Eu e ela sabemos do se trata. Mas há algum tempo me permiti deixar isso para trás. Não tinha porque prolongar os nossos desencontros. Hoje o que me permito guardar é esse amor que ela me fala e me faz sentir mesmo longe fisicamente de mim.

Hoje é meu aniversário. Daqui a 11 dias o dela. Por isso meu desejo é que ela seja sempre luz para que eu possa continuar a caminhar.

2 comentários:

  1. “O amor verdadeiro, por estar preenchido, transborda bons sentimentos. Ele não corrige, simplesmente perdoa. Ele não toma, simplesmente doa. Na sua pureza não espera o retorno para si. Seu único desejo é libertar o outro. Para fazer crescer seu coração seja generoso consigo e confie nos outros. O poder do amor torna possível o impossível.”

    ResponderExcluir