quarta-feira, 28 de julho de 2010

Lar doce lar


Quando decidi dividir apartamento com um amigo não pensei muito no que isso implicaria. Pensei apenas nas intermináveis conversas que iríamos ter, na cumplicidade, nos risos e na companhia que faríamos um ao outro quando estivéssemos perdidos dentro de nós mesmos.

Não levei em consideração que a mudança não era só de casa, mas também de bairro. O que para mim foi o mais complicado. Troquei Candeias por Boa Viagem. Troquei de padaria. Troquei o lugar de sempre da praia. Troquei a locadora. Troquei os vizinhos. Troquei os caminhos que percorri diariamente durante 15 anos.

Pode parecer besteira, mas para mim inicialmente foi complicado. Era como se tivesse deixado mais uma vez os meus. E de certa maneira deixei. Isso porque antes desta mudança morei na casa da minha amiga-irmã. O que foi bom. Lá continuava dentro da estrutura familiar. Tinha um pai e uma mãe. Tinha uma irmã. E tinha até um cachorro pra chamar de meu. Tudo emprestado, mas tudo cedido com amor. Hoje passei a ser filha, irmã, neta, sobrinha, prima de verdade destes. E não tinha como ser diferente. Não no meu coração.

Mas com a necessidade de seguir, de tentar, de aprender aceitei o convite inesperado de Thiago. Ele o fez entre uma conversa e outra. E embora em dúvida, disse sim. Hoje percebo que foi a decisão mais acertada que poderia ter tomado naquele instante. Dividir meus dias, minhas mudanças de humor, medos, inseguranças, minha vida com ele e Thaís foi a melhor coisa que poderia ter escolhido naquele momento.

Candeias continua nos meus planos futuros. Um dia volto, mas hoje me sinto feliz onde estou.

domingo, 25 de julho de 2010

Toca Raul!


Adoro trabalhar, estudar, ler, escrever escutando música. Mas sempre que tenho que montar meu playlist é uma dúvida cruel. Meu gosto musical é de fases. Hoje, por exemplo, estou apaixonadíssima por Otto. Mas dias atrás amava perdidamente o samba de Paulinho da Viola e o pop inteligente de Vanessa da Mata. Isso não significa que deixei de gostar. Mas meu gosto musical vai se moldando, embora minha raiz pernambucana não me abandone.

Adoro em qualquer situação a Academia da Berlinda, o som dançante da Orquestra Contemporânea de Olinda, a irreverência da Tanga de Sereia, a batida da Nação Zumbi, Los sebosos postiços, Eddie, Coco raízes de Arcoverde, o para sempre Cordel do fogo encantado e em qualquer fase Lenine.

Mas tem um cantor baiano que me enche o peito: Raul Seixas. Na minha infância ele embalava as viagens de férias. Lógico que naquela época também gostava de Xuxa, Trem da alegria e Balão Mágico como toda criança dos anos 80, mas Raulzito com suas críticas ao sistema, o esoterismo e seu olhar sobre os sentimentos humanos era bom demais para mim.

Confesso que não era só o rock e sua poesia, mas tudo que vinha com ele. Eram minhas viagens pelo litoral nordestino, a companhia dos meus pais e principalmente o colo da minha mãe que me fazia amar Raul.

Em agosto fará 21 anos que ele nos deixou, mas por aqui e nas minhas mais doces lembranças ele nunca deixará de tocar.

P.S: Texto escrito ao som de Mônica Salmaso.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Gravada no corpo


Os bebês começam a falar entre 7 e 8 meses. Eu comecei aos 9. Minha mãe conta que eu estava brincando e de repente falei. Não foi nada sem sentido. Nada atropelado. Falei com tranqüilidade. Com segurança. Inconsciente, talvez.

Minha primeira palavra não foi baba, mama, papa. Minha primeira palavra surpreendeu. Mas o momento foi para poucos. Minha platéia se resumia aos meus pais. Eles estavam juntos. Hoje penso que realmente não precisava de mais ninguém. Estava tudo ali. Naquele quarto.

Deitados na cama eles escutaram o som da minha primeira palavra. Chegaram a duvidar. Questionaram-se. Saltaram em minha frente na tentativa que repetisse. Não repeti.

O fato é que nunca soube o que aconteceu em seguida. Não sei qual foi a segunda, terceira. Não sei quem estava presente. A importância da primeira tornou insignificantes as que vieram depois. 

Minha primeira palavra foi o nome do meu pai.


sexta-feira, 16 de julho de 2010

O sorriso que tantas vezes me recebe


Tenho lembrado muito do último encontro com minha avó. Uma visita como tantas outras, uma recepção como tantas outras. Tento abrir o portão da casa, está trancado como de costume. Chamo. Grito. Ela não levanta. Está com a TV no último volume assistindo um jogo da Copa do Mundo.

Depois de certo tempo, eu e tia bibi descobrimos o portão aberto. Entramos, encontramos Dóia sentada. Ao tentar se levantar ela segura meu braço, embora diga que se sente mais segura quando apóia no sofá. E é dessa maneira buscando seu equilíbrio que ela sorri e me abraça.

Um abraço tão forte!

Por alguns instantes ela me solta, mas ainda assim me mantêm junto do seu corpo, olha nos meus olhos e lembra que já faz muito tempo que não nos vemos. Não sei se é o fato da sua idade, 90 anos, mas a algum tempo tenho medo de viver meu último encontro.

Com um aperto no coração conto as novidades, escuto suas histórias, revejo fotos, sinto seu cheiro. Tudo como de costume. Ao nos contar alguns casos ela troca nomes e esquece outros tantos. Mas a verdade é que ela ainda não esqueceu o meu.

Ela ainda guarda o meu rosto, o meu nome e recorda o tempo que fico sem a ver. Na despedida me abençoa e diz que espera que eu seja muito feliz. Tudo como de costume.

No portão me abraça, pede para não demorar, porque meu pai precisa de mim. E com um nó na garganta me despeço. Vou embora prometendo voltar em breve. E como de costume saio de sua casa sentindo que estou mais perto de Deus.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Brincando de amigas super poderosas


Na última semana eu e mais três amigas nos encontramos para curtir o que chamamos de Dia Feliz. O dia que poderia ser chamado tranquilamente de encontro das luluzinhas, porque a entrada de menino é proibida. Mas não, seria óbvio demais.

Neste dia a gente não segue um script. Nunca tem nada muito programado. Só queremos ficar juntas, conversar, sorrir e...SER FELIZ. E é o que temos sido nestes quatro anos que nos reunimos esporadicamente. Lógico que já existiu desentendimento. Isso é fato. Mas nunca ficamos de birra durante muito tempo. Afinal não temos tempo pra isso.

Precisamos de tempo de sobra para rir até dar dor na barriga. Para comer sorvete, com biscoito, neston e goiabada. Para cantar More Than Words entre suspiros. Para ver Simone dançando ao som de Michael Jackson e Madonna. Para rir com os clipes dos anos 80. Para assistir O Fabuloso Destino de Amelie Poulain e P.S: Eu te Amo e descobrir no final do filme que uma de nós está com o rosto inchado de tanto chorar. Enfim, precisamos de mais do que já nos é disponível.

Neste último encontro rimos tanto que ficamos sem ar. Confidenciamos segredos e desejos. Aconselhamos. Repreendemos. Nos Incentivamos. Na despedida o namorado de uma delas perguntou se tínhamos brincado de amigas super poderosas. Brincamos sim!

Durante toda tarde usamos nossos super poderes. Simone sua loucura contagiante.
Regina sua visão raio laser. Kelly sua força sobre-humana. E eu minha alegria natural. O único inimigo enfrentado foi um cachorro labrador de pouco mais de cinco meses que resolveu não nos deixar em paz.

sábado, 10 de julho de 2010

Aprendizado de hoje

Durante o almoço Thiago diz sem me olhar nos olhos que todos nós sempre temos escolhas. Concordo com ele.
Mas às vezes é tão difícil. É tão complicado saber que alguns caminhos que procuramos não estão nos mapas.
Tarefa árdua esta de escolher. E renunciar.
Mas vamos em frente.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

A felicidade tem nome e sobrenome


Minha irmã sempre teve um sorriso estampado no rosto. Lembro que desde novinha as pessoas olhavam para ela e ela desatava a sorrir. Ganhou seu primeiro poema ainda com poucos meses. Um amigo de trabalho do meu pai expressou através de rima a alegria que sentia quando a via sorrir.

Não sei porque recordei isto. O fato é que dia desses, ela entrou correndo no quarto e me surpreendeu entre risos dizendo que a felicidade tinha nome, sobrenome, pernas e que andava.

Mesmo com o entusiasmo do momento, retribui sua euforia com um sorriso. Acho que sem graça. Minha irmã, seis anos mais nova que eu, definiu a felicidade para mim. Fiquei assustada com seu atropelo, sua precipitação, seu engano talvez. O fato é que fiquei pensando na minha felicidade, no que me proporcionava essa alegria desenfreada. E com sua ajuda descobri que minha felicidade tem várias identidades. Descobri através dela que estar em casa, como naquele momento, me deixava feliz.

Ver minha avó me deixa feliz. Abraçar meu pai me deixa feliz. Conversar com minhas primas na cozinha de tia Vera me deixa feliz. Reencontrar os amigos me deixa feliz. Vê-la sorrir me deixa feliz. Estar em paz com minha mãe me deixa feliz. Dançar ouvindo meu primo tocar me deixa feliz. Passear com pretinho me deixa feliz. O sertão me deixa feliz. Ser uma mistura dos meus avós, pais, irmãos, tios, primos e amigos me deixa feliz.

Através dela tive a certeza que minha felicidade não era uma pessoa, mas um lugar. Arcoverde me deixa feliz. Estar em casa, na minha cidade, com minhas origens é a minha felicidade.

De Recife para Arcoverde são 252 km. O caminho da minha felicidade percorro pela BR 232. E sempre foi assim, através da minha irmã descobri.