sexta-feira, 16 de julho de 2010

O sorriso que tantas vezes me recebe


Tenho lembrado muito do último encontro com minha avó. Uma visita como tantas outras, uma recepção como tantas outras. Tento abrir o portão da casa, está trancado como de costume. Chamo. Grito. Ela não levanta. Está com a TV no último volume assistindo um jogo da Copa do Mundo.

Depois de certo tempo, eu e tia bibi descobrimos o portão aberto. Entramos, encontramos Dóia sentada. Ao tentar se levantar ela segura meu braço, embora diga que se sente mais segura quando apóia no sofá. E é dessa maneira buscando seu equilíbrio que ela sorri e me abraça.

Um abraço tão forte!

Por alguns instantes ela me solta, mas ainda assim me mantêm junto do seu corpo, olha nos meus olhos e lembra que já faz muito tempo que não nos vemos. Não sei se é o fato da sua idade, 90 anos, mas a algum tempo tenho medo de viver meu último encontro.

Com um aperto no coração conto as novidades, escuto suas histórias, revejo fotos, sinto seu cheiro. Tudo como de costume. Ao nos contar alguns casos ela troca nomes e esquece outros tantos. Mas a verdade é que ela ainda não esqueceu o meu.

Ela ainda guarda o meu rosto, o meu nome e recorda o tempo que fico sem a ver. Na despedida me abençoa e diz que espera que eu seja muito feliz. Tudo como de costume.

No portão me abraça, pede para não demorar, porque meu pai precisa de mim. E com um nó na garganta me despeço. Vou embora prometendo voltar em breve. E como de costume saio de sua casa sentindo que estou mais perto de Deus.

3 comentários:

  1. Até chorei, Dani.
    Dóia é uma das criaturas mais ternas que eu conheço. Fala com a gente rindo!
    Lembro há uns anos atrás, que ela me falou, entre dentes, no seu sorriso habitual, que ainda guardava consigo a lembrancinha de maternidade do meu nascimento.
    Eu nunca cheguei a ver essa lembrancinha, até porque ninguém mais tem. Mas só em saber que ela guardava e SABIA que guardava, sabia como era (me explicou tudinho) vi o tanto de carinho que cabe naquele coração.
    Sua avó é uma querida!

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  2. Em dezembro, durante seu aniversário, ela me disse que lembrava das vezes que me carregou no colo. Não aguentei, chorei.
    Mas ainda bem que ainda estamos construindo lembranças futuras...ainda bem!

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  3. Pouquíssimos textos conseguiram me emocionar até hoje, e esse - por identificação talvez - é um deles.

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